Algo de estranho se passa em Cleveland. Às queixas de Bynum
(entretanto nos Pacers) sobre o alegado mau ambiente no balneário causado por
Kyrie Irving, passando pela decepção de Luol Deng (recém-contratado aos Bulls)
com certos comportamentos, até aos rumores de que Kyrie Irving, o jovem point
guard dos Cavs e primeira escolha do Draft de 2011, estaria a equacionar
abandonar a cidade de Cleveland e partir rumo a melhores ventos em 2015.
Paralelamente, a equipa vai jogando mal, sem espírito competitivo, desligada
ofensivamente ( a única jogada que Mike Brown parece promover é a que já usava
nos tempos idos de LeBron, ou seja, get-the-ball-to-the-star-and-run-away) e
com uma defesa… inexistente. Se o mau ambiente no balneário é causa ou
consequência dos maus resultados ainda se está para perceber, mas o que resulta
para já evidente é a inexistência de qualquer química entre os jogadores de
Cleveland. O caso torna-se particularmente preocupante quando a equipa actua
numa das Conferências mais fracas dos últimos anos.
Um dos problemas que Kyrie Irving enfrentará em 2015, se se
confirmar a vontade de sair, é que, segundo o seu contrato, será apenas um
restricted free agent – o que significa que aos Cavaliers basta igualar a melhor
oferta que uma outra equipa fizer pelo point guard para que Uncle Drew fique
vinculado a jogar o mesmo número de anos propostos na equipa que o acolheu. A
alternativa seria assinar um contrato de 1 ano – uma qualifying offer – no
valor de 9 milhões de euros, valor que dificilmente satisfará o habilidoso
base. Na eventualidade de assim acontecer, certamente será trocado logo no
início da época, uma vez que os Cleveland não quererão perder mais um All-Star
sem receber nada em troca, como aconteceu com LeBron James – mas isso já só
ocorreria em 2016.
O Preconceito:
O
cenário que melhor satisfaria às partes seria, claro está, Cleveland começar a
ganhar. Mas o sucesso precisa de ser construído. Desde logo, os Cavs teriam que
mudar a sua política de jogadores. Actualmente, a equipa de Este tem optado por
reunir o máximo de jovens promissores (Irving, Waiters, Zeller, Bennett,
Tristan Thompson,…) , mas o efeito, ao invés de construir um plantel ambicioso,
tem sido nocivo: todos querem mostrar serviço individualmente para merecerem
grandes contratos, mas estão pouco interessados em jogar basquetebol enquanto
desporto colectivo – é o oposto do que acontece em New York, com os Knicks. E
isto porque falta veterania na equipa capaz de impor e ensinar aos
recém-chegados as chaves para o sucesso na NBA (Bynum não tinha, nem tem,
perfil para servir de tutor; Jack está feliz com o grande contrato que
conseguiu e não se precisa de preocupar muito com os miúdos à sua volta;
Varejão batalha ainda com a busca pela regularidade, devido às fustigantes
lesões que tem vindo a sofrer ao longo dos anos; Deng chegou a meio da época a um balneário já destruído).
Não menos importante é repensar a situação do treinador,
Mike Brown. O ex-Laker tem falhado em cumprir o papel de orientador dos jovens
e em trazer de volta o caminho das vitórias a Cleveland, após os sucessos da
era LeBron (apesar de ter sempre falhado o anel). Basta ver um período de um
jogo de Cleveland para se perceber que o treinador não está a desempenhar
nenhum papel proactivo na prestação da equipa: ataca-se mal e não se defende.
Parece que estamos a ver um grupo de jovens atletas basquetebolistas que se
juntaram no momento para fazer uns cestos (este ano até já tivemos Bynum a tentar triplos!).
O Orgulho:
Mas Kyrie não é livre de culpas. Chegou cedo à NBA, já
rotulado como um point guard de nova geração, mas a verdade é que, e em
particular com Mike Brown, não tem sido um jogador capaz de elevar o jogo dos
seus colegas. O seu papel de comandar o processo ofensivo resume-se a reter em
demasia a bola, lançamentos difíceis e, ocasionalmente, encontrar CJ Miles ou
Waiters livres para um jump shot – culpa igualmente da incompetência do técnico
Mike Brown. Ainda assim, dificilmente pode Kyrie Irving exigir um tratamento ao
nível de uma superstar quando, na realidade, pouco fez para o merecer.
Actualmente, não é um dos 5 melhores bases da Liga (sérias dúvidas se estará
sequer no top 10) e vive mais da fama associada ao nome do que dos méritos do
seu jogo, mais dos highlights que consegue devido à espectacularidade da sua
técnica do que de vitórias.
Um exemplo da técnica de Kyrie Irving, com um dos mais espectaculares crossovers dos últimos tempos.
Claro que os tenros 21 anos do base o protegem muitas vezes
de críticas. O potencial e o talento são enormes, ninguém duvida. Mas se, por
um lado, Irving se escuda na sua precoce idade para se defender de críticas,
por outro também não pode exigir ser tratado como um base com provas dadas na
NBA. Chegou a altura de alguém dizer ao Uncle Drew que o sítio para evoluir e
se tornar numa base de equipa é o presente. Até porque se, de facto, vier a
sair, a questão vai deixar de ser quão maus são os Cleveland, para passar a ser
porque não conseguiu Kyrie Irving levá-los ao sucesso?