domingo, 23 de fevereiro de 2014

Previsão: Most Improved Player 2013/2014


A temporada iniciou agora a sua segunda parte, após o final do fim-de-semana Al l Star, altura sempre propícia para uma perigosa previsão sobre os jogadores que mais evoluíram desde a época transacta. Como todos os anos, muitos candidatos se perfilam, o que obriga, desde logo, a um exercício de filtração do excesso de jogadores. Para tal, importa realçar que o prémio de Most Improved Player (MIP) cedido pela NBA ao atleta que maior evolução registou no seu jogo a cada temporada (no ano passado, o vencedor foi Paul George) é, sobretudo, uma menção baseada na qualidade da contribuição para o sucesso da equipa e não na quantidade. Ou seja, há muitos nomeados crónicos que surgem como candidatos em relação aos quais não existe, de facto, uma evidente melhoria qualitativa no seu jogo, mas apenas um aumento do número de minutos em campo, o que faz, naturalmente, aumentar o seu impacto estatístico no jogo a nível de pontos, assistências e ressaltos, mas pode nada significar a nível de evolução como atleta.


Partindo de tal consideração, há alguns jogadores que vamos, desde já, afastar. Terrence Jones, dos Houston Rockets, tem sido um dos jogadores mais invocados para o MIP. Contudo, analisando a sua temporada constata-se que, apesar de existir um evidente salto na sua importância na equipa, particularmente como ressaltador e lançador a curta e média distância, a melhoria no seu contributo tende a seguir o padrão de um jogador de 2ª época de NBA a quem são concedidos mais minutos – ou, no caso, a titularidade. Jones melhorou alguns aspectos do seu jogo – nomeadamente a eficácia do seu lançamento – mas, no geral, as suas médias apenas se ajustaram ao aumentar de minutos em campo. A mesma conclusão vale para Gerald Green e Eric Bledsoe, dos Phoenix Suns. Por outro lado, jogadores como Anthony Davis ou Kendall Marshall não serão por nós considerados porquanto chegam a esta temporada após uma época complicada, seja por lesões ou por se encontrarem sem equipa, que torna menos rigoroso o processo de verificar da sua real evolução qualitativa. Mas elenquemos então a nossa lista de favoritos:


- John Wall. O base dos Washington está esta temporada a manter os seus registos individuais na casa dos 20 pontos e 8 assistências, mas a sua evolução como jogador e líder é inegável. A nível defensivo, Wall é já o 5º jogador da NBA com mais roubos de bola e o 2º base em bloqueios. O seu lançamento exterior, em particular da zona de 3 pontos, passou de inexistente a uns interessantes 33% e da linha de lance livre o base aumentou a sua eficiência de 80% para 83%. A isto acresce que John Wall se tornou, esta época, o líder incontestado em Washington, assumindo o objectivo dos playoffs e motivando os seus colegas a elevarem o seu jogo.



- Goran Dragic, dos Suns, é um dos mais fortes candidatos a arrecadar o prémio. O base esloveno em pouco alterou a sua média de minutos em relação à época transacta, mas aumentou a sua contribuição a nível de pontos (já leva uma média de 20 por partida), eficácia de lançamento livre, lançamento de 3 pontos e lançamentos de curta e média distância, registando máximos de carreira nos três últimos. O seu número de assistência decaiu de 7 para 6, mas a quebra compreende-se em virtude de Dragic surgir esta época mais numa posição de atirador, face à presença de Bledsoe. A surpreendente época dos Phoenix pode bem servir de argumento para que Dragic seja MIP.


     - Lance Stephenson. Para muitos favorito, o jovem de Indiana agarrou o seu lugar a titular nos Pacers e tem-se destacado como uma ameaça ofensiva, capaz de um triplo duplo a qualquer noite. Lance está a registar recordes de carreira em lançamentos de curta e média distância e da linha de 3 pontos, aumentou os seus ressaltos de 4 para 7 e as suas assistências de 3 para 5 – tudo isto com um mero aumento de 6 minutos de presença em campo. É o grande favorito.

 *Menções honrosas: Jared Sullinger, dos Celtics; Blake Griffin, dos Clippers; Kyle Lowry dos Raptors.

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sábado, 22 de fevereiro de 2014

D.J. Augustin, o herói improvável


Na passada quarta-feira (dia 19 de Fevereiro) os Bulls deslocaram-se a Toronto, num confronto importante na disputa por um lugar no pódio da Conferência Este. Mas outro ponto de interesse foi o regresso de D.J. Augustin ao Canadá, de onde havia sido dispensado no início de Novembro, na sequência da troca que envolveu a mudança de Rudy Gay para Sacramento. D.J. apareceu no Air Canada Centre com desejo de provar o seu valor e o seu contributo foi determinante, esclarecendo os fãs dos Raptors sobre o valor da peça que tinham deixado sair pela porta pequena: com 19 pontos, com 4 triplos em 5 tentados. O jogo do base nem foi brilhante, mas foi suficiente para provar da sua versatilidade e capacidade para alinhar em qualquer equipa da NBA. Pelo meio, vingou-se de alguns fãs, discutindo com adeptos dos Raptors e festejando efusivamente o sucesso dos Bulls.
                
      Contudo, a presente temporada começou da pior forma possível para D.J. Augustin. Na sua 6ª época na Liga, o base americano aterrou em Toronto depois de uma época em Indiana onde registou o seu recorde de menos minutos por partida. Muito mudou em 2 anos para D.J.: em 2011 era titular em Charlotte, com médias de 14 pontos e 6 assistências, e na recta final de 2013 perdeu espaço na rotação dos Raptors, o que viria a conduzir à sua dispensa. Aos 26 anos D.J. estava sem equipa, cenário nunca animador para um atleta que ambicione a longevidade na NBA.


Os Bulls, feridos por mais uma lesão de Derrick Rose e as perspectivas de um back court órfão de um point guard com calibre para combinar com Boozer, Noah e companhia – Hinrich sente-se mais confortável na posição de atirador e M. Teague desapontou – estavam atentos e poucos dias após D.J. aterrar na free agency garantiram o seu concurso. Os Bulls caminhavam para um abismo, mas a chegada do base veio a coincidir com o ressuscitar da competitividade da equipa e consequente regresso às vitórias, mesmo após a troca de Luol Deng. D.J. Augustin leva, em 34 jogos, um impressionante registo de 14 pontos e 6 assistências, com uma eficácia de 45% da linha de 3 pontos – números esses que sobem para 18 pontos e 7 assistências quando titular.


                D.J. Augustin tornou-se o maestro para uma orquestra desordenada em Chicago. Comparando estatísticas, verifica-se que o base tem uma média de minutos com a bola nas mãos semelhante à Chris Paul, Lillard e Curry. Tom Thibodeau deu-lhe as chaves do carro: é ele quem coordena as ofensivas, promovendo pick and rolls com os gigantes de Chicago que terminam com um lançamento isolado ou a assistência para debaixo do cesto. Mas é sobretudo o clima de confiança nas suas capacidades que elevou o jogo de D.J.: ao contrário do que acontecia em Toronto, o base sabe que não está a um erro de ficar sentado no fundo do banco durante os jogos seguintes, e isso liberta a sua criatividade.
                A influência do base – que coincide igualmente com a afirmação da equipa dos Bulls no 2º lugar da Divisão Central – tem sido destacada pelos próprios colegas e treinador:

“Ele mudou tudo. A equipa estava mal e o D.J. chegou para nos facilitar a ofensiva, marcar pontos. Acredito que sem ele não teria chegado ao jogo All-Star” - Joakim Noah


“Nós tínhamos uma grande necessidade de um base criativo e o D.J. apareceu disponível. Foi excelente timing e uma grande felicidade para nós.” – Tom Thibodeau

                Aos 26 anos, Augustin conquistou o seu lugar na NBA – ou pelo menos em Chicago – e é a prova viva de que na Liga há uma fronteira muito ténue entre o insucesso e os playoffs que pode muitas vezes ser ultrapassada com a adição de um jogador dispensado.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Uma nova geração em OKC

     
       
      Os Oklahoma City Thunder são uma das melhores equipas da NBA (lideram, aliás, a Liga com apenas 12 derrotas). Liderados por Kevin Durant, a fazer uma época monstruosa e, para já, candidato mais forte a arrecadar o título de MVP, são particularmente temidos pelo Big Three que conseguiram formar nos curtos anos de existência da equipa – juntam-se a Durant, Russell Westbrook (esta época tem estado afastado por leões) e Serge Ibaka (o espanhol nascido do Congo que está a registar uma inacreditável temporada, com médias de 17 pontos, 10 ressaltos e 3 bloqueios por jogo). Mas o segredo para conquistar campeonatos reside não apenas na qualidade das estrelas: é imprescindível rodeá-las com role players preparados para saltar do banco e garantir a qualidade defensiva e ofensiva, permitindo às principais figuras preciosos minutos de descanso. Neste aspecto, a equipa de OKC tem batalhado para atingir a fórmula perfeita. Se na primeira corrida ao título, há 3 temporadas, com James Harden – já All-Star e líder em Houston - como figura principal do banco, ficaram bastante aquém dos Miami Heat nas Finais, conseguirão fazê-lo com outros atletas sem o rótulo de estrelas? A questão merece estudo – afinal, só conhecendo a nova geração de jogadores de Oklahoma poderemos prever o impacto nos playoffs.


Reggie Jackson e Jeremy Lamb herdaram a difícil tarefa de contribuir com os pontos e minutos que outrora pertenceram a James Harden e Kevin Martin. Enquanto jovens jogadores, enquadram-se perfeitamente no que tem sido a política de contratações da equipa do Oeste. Há um padrão na aposta em jovens, com contratos baratos e carentes de provar o seu valor que continua bem patente no duo Jackson-Lamb. Com a companhia de Durant, Westbrook, Ibaka e Fisher, os pupilos de Scott Brooks encontram um cenário propício de cruzamento entre qualidade e veterania para o crescimento como atletas e profissionais.

Reggie Jackson, com 23 anos e na terceira temporada com os Thunder, tem surgido em excelente plano perante a difícil de tarefa de preencher o lugar de Westbrook, ausente devido a lesões. Desde o primeiro ano que o jovem base tem registado evidentes melhorias no jogo ofensivo e eficácia do lançamento – e isso evidencia-se nas estatísticas. Esta temporada, com mais minutos e jogos a titular, consagrou-se como uma solução ofensiva de valor: 17 pontos e 5 assistências por partida. O que mais se destaca em Jackson é a facilidade de criação de jogadas ofensivas, aliviando Durant da carga de ser o playmaker e o finalizador das ofensivas. Aos 23 anos, o base destaca-se pela criatividade, facilidade de lançamento e velocidade. Quando Westbrook voltar, Derek Fisher não vai ter vida fácil para conseguir minutos no court face à concorrência de Reggie Jackson.

Jeremy Lamb, 21 anos, foi desde a chegada a Oklahoma alvo de elevadas expectativas, em torno da sua contribuição ofensiva, que acabaram por se traduzir num efeito nocivo no seu rendimento durante o ano passado. As oportunidades acabaram por ser poucas (apenas 23 jogos e média de 6 minutos), o que levou muitos a duvidarem da capacidade de nesta época poder ser já um verdadeiro contribuidor. Mas Lamb encontrou o seu espaço na manobra da equipa, beneficiando dos double teams feitos a Durant, Jackson e Ibaka para conseguir bons lançamentos e ir ganhando confiança. Até agora, Lamb tem um bom registo, com 10 pontos e 50% em lançamentos de 2 pontos. Somado com Jackson, o duo garante uns sólidos 27 pontos por partida, preenchendo bem o papel de James Harden ou Kevin Martin.


Para lá destas duas maiores vedetas que saltam no banco, há mais um nome que tem ganho consenso como uma das futuras estrelas da NBA: Steven Adams. O gigante chegou, por opção, muito novo à NBA (tem 20 anos), mas o seu potencial tem deixado muita expectativa em torno dos fãs de OKC. Ao contrário de Perkins, o jovem da Nova Zelândia traz à equipa um estilo de jogo mais instintivo e a capacidade de finalizar debaixo do cesto, através pump fakes ou rápidas desmarcações. O seu impacto em campo ainda não se traduz nas estatísticas individuais, mas colectivamente o neo-zelandês permite a Scoot Brooks pôr em campo uma equipa mais versátil e veloz nos momentos ofensivos.

A fechar, falemos de Perry Jones, porventura o jovem mais desconhecido dos quatro, mas que, aos poucos, vai despertando atenções pelas capacidades ofensivas e contributo defensivo (na primeira partida da fase regular contra os Heat passou alguns minutos a defender Ray Allen e até LeBron, deixando uma boa imagem perante a dificílima tarefa). O forward é um dos jogadores mais rápidos na equipa dos OKC, o que lhe permite defender qualquer jogador adversário. No seu segundo ano de NBA, Perry Jones faz lembrar um jovem Iguodala ou Paul George a menor escala. É daqueles que, a qualquer momento, vai ter um jogo de explosão.


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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

76ers: do insucesso colectivo às oportunidades individuais


     Em inícios de Fevereiro os Philadelphia 76ers rumaram ao Oeste para defrontar, em dois dias seguidos, os Clippers e Warriors. O resultado foi terrível e marcou um dos piores registos da Liga: os 76ers perderam ambos os jogos por um total combinado de 88 pontos. Mas Sam Hinkie, o General Manager da equipa, não ficou certamente decepcionado: afinal, construiu a equipa para o fracasso – o chamado tanking – para que, no próximo draft, garanta uma das primeiras escolhas e consiga trazer uma estrela em potência para Philadelphia.

     
     A decisão mais mediática foi a troca de Jrue Holiday para New Orleans por troca com Nerlens Noel – um rookie lesionado, que falhará toda a temporada 2013/2014. Era uma declaração de tanking. Agora que a época vai a meio é interessante constatar que os Philadelphia, se tivessem mantido Jrue Holiday, teriam certamente equipa para lutar pelos playoffs no Este – Jrue Holiday, Michael Carter-Williams, Evan Turner, Thaddeus Young, Spencer Hawes, etc.. Mas Philadelphia não se arrepende da decisão e continua a apostar no próximo Draft, como o comprova a disponibilidade para trocar Young e Turner.


     Se ter uma equipa propositadamente montada para o insucesso pode chocar a essência competitiva do desporto, nem sempre isso se vai traduzir em partidas difíceis de ver (apesar do ocasional lançamento em suspensão de Elton Brand, capaz de arrepiar o fã menos sensível de basquetebol). A verdade é que a aposta – ou falta dela – dos Philadelphia tem paralelamente permitido que muitos jogadores, que em qualquer outro cenário não teriam muitos minutos na NBA, apareçam e se exibam no melhor palco do Mundo. E, quando assim acontece, nascem jogadores interessantes, versáteis e, sobretudo, baratos que muitas equipas cobiçarão.

     São exemplo disto James Anderson, Tony Wroten e Elliot Williams. James Anderson, após passagens complicadas por San Antonio e Houston, chegou este ano, pela primeira vez, a uma media superior a 20 minutos por partida. O versátil jogador soma 10 pontos por partida e uma eficiência de 56% em lançamentos de 2 pontos.  Já o base-atirador Tony Wroten tem-se destacado como uma das melhores novidades da NBA nesta época. Escolhido por Memphis no Draft, aterrou em Philadelphia após uma passage infeliz pelos Grizzlies e tem sido uma peça importante da equipa dos 76ers: em 24 minutos por jogo contribui com 13 pontos, 3 ressaltos e 3 assistências, tendo por especialidade o ataque ao cesto. Por fim, Elliot Williams, após não ter jogado durante a época de 2012-2013, surgiu em Philadelphia como um interessante role player – aufere, este ano, menos de 800.000 dólares – que tem contribuído, ainda que a uma escala menor, com alguns bons detalhes.


     Estes jogadores acabam, graças a este sinistro cenário de tanking, por garantir um contrato na Liga, pelo menos para os próximos anos – seja em Philadelphia ou em qualquer outro franchise. Já os 76ers ganham peças para o plano futuro de regresso ao topo do Este. Com Michael Carter-Williams, Evan Turner ou Thaddeus Young, Nerlens Noel (que é, apesar da lesão, um atleta promissor, especialista em bloquear lançamentos) e o jogador ou jogadores provenientes do Draft deste ano, podem sonhar com uma geração duradoura. Até lá, resta ter paciência.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Goran Dragic: a força do Dragão

          
     Goran Dragic foi o 45º jogador escolhido no Draft de 2008, seleccionado pelos San Antonio Spurs e prontamente trocado para os Phoenix Suns. A troca, na altura, pouco impacto teve – afinal, quem era este esloveno, a alinhar na equipa espanhola dos Tau Ceramica? O responsável pela aposta foi Steve Kerr, que afirmou, logo na altura, que Dragic era o segundo melhor point guard do Draft (apesar de lá também estarem Derrick Rose, Russell Westbrook, George Hill e Mario Chalmers).

     Dragic aterrou assim em Phoenix, com 22 anos, para ser o backup de Steve Nash. O primeiro ano foi, contudo, decepcionante. Em 55 jogos, com escassos minutos, Dragic obteve uma média de 5 pontos, 2 assistências e… 2 turnovers. A ESPN chegou a considera-lo o pior jogador da Liga. Os adeptos dos Suns apelidaram-nos de “Goran Tragic”. No segundo ano, o cenário melhorou. Dragic começou a jogar mais e, juntamente com Robin Lopez, estabeleceu-se como um dos bons jovens role players dos Suns – terminou a temporada com média de 8 pontos e 3 assistências em 18 minutos, e os Suns conseguiram um impressionante terceiro lugar na conferência Este.


Foi nesse mesmo ano, nas meias-finais de conferência, contra os Spurs, que Dragic começou a aproximar-se da fama.

Jogo 3, San Antonio, Texas.

Os Suns estavam em dificuldades, chegaram a estar a perder por 18 pontos. Até que, no quarto e decisivo período, Goran Dragic apareceu. Nos 12 minutos finais, o base anotou 23 pontos, dominando completamente a partida e conduzindo os Suns à vitória. Nascia Goran “The Dragon” Dragic, que tinha nos seus “dragonshakes” a sua imagem de marca.

O incrível jogo de Dragic contra os Spurs: um dos melhores desempenhos individuais num 4º período dos playoffs da história da NBA.

A época seguinte foi turbulenta. A equipa dos Suns decidiu reformar o plantel – saíram Stoudemire e Leandro Barbosa, chegaram Childress e Turkoglu. O base esloveno teve dificuldades em adaptar-se ao novo grupo e, a meio da época regular, foi trocado para os Houston Rockets por Aaron Brooks (que, na altura, viva também semelhantes dificuldades).
A troca caiu mal ao base, já aficionado pelos Suns. Mas vingou-se e terminou a temporada em grande na cidade de Houston, lançando com uma eficácia de 52% da linha de 3 pontos (!). Na época seguinte, continuou a explodir. Aproveitando a lesão de Kyle Lowry, Dragic conseguiu aumentar as suas médias para uns impressionantes 12 pontos e 5 assistências (18 pontos e quase 9 assistências quando titular). No final da época, tornou-se free agent e Dragic estava preparado para encontrar um lugar que reconhecesse a sua qualidade.



Em 2012, Goran Dragic voltava assim à casa-mãe, assinando um contrato de 4 anos por 30 milhões de dólares. A missão? Substituir Steve Nash.
Contudo, estes eram outros Suns – na verdade, um dos piores da história da equipa, com apenas 25 vitórias. Por entre péssimo basquetebol e mudança de treinador, o base foi o único ponto positivo de uma época para esquecer: 11 pontos, 5 assistências e 3 ressaltos. No final da temporada, nova remodelação: muitos jogadores novos e um novo treinador, Jeff Hornacek.
O novo treinador pegou numa equipa de “trapos” – as previsões apontavam para o fundo da tabela no Oeste – e transformou-a num conjunto com potencial de playoff. Dragic emparelhou-se com Eric Bledsoe no backcourt e rapidamente se adaptou ao ritmo e necessidades colectivas do novo grupo: os Suns começaram em grande e o potencial parecia infinito. 


Porém, quando o ex-Clipper Bledsoe se lesionou gravemente no joelho, prontamente se preparou o funeral da equipa de Phoenix. Mas Dragic, Frye, Green, os irmãos Morris, Tucker e companhia não iam ficar por aqui. Os pupilos de Jeff Hornacek continuaram em grande – batendo, ineditamente, os Indiana Pacers por duas vezes – liderados pelo base esloveno e nova estrela da equipa.
Dragic é um evidente caso de amadurecimento do seu jogo até chegar ao nível do estrelato. Evoluiu de um tímido rookie para um líder de balneário, capaz de assumir o jogo em lances no último segundo – incluindo uma sequência de 4 jogos com mais de 23 pontos. Esta época leva invejáveis médias (20 pontos, 6 assistências, 4 ressaltos), ao nível dos melhores bases da Liga. A isto acresce uma eficácia superior a 50% de lançamento e o rótulo de superestrela dos Suns. Dragic pode não ser All-Star, mas este ano é, até ver, dos melhores bases da NBA.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Fear the beard: uma ameaça ofensiva para os adversários, um problema para os Rockets


     James Harden, na sua quinta época na NBA, já é considerado um dos melhores shooting guards da Liga – para muitos até o melhor, face às limitações de Dwyane Wade. Para isso, muito ajuda ser o 8º melhor marcador de pontos, com 24 de média por jogo, a que se juntam 5 assistências e 5 ressaltos. Mas daí a considerar Harden como uma das superestrelas capaz de carregar a sua equipa ao título vai um longo caminho, cercado por muitas dúvidas. Mesmo tendo por colega de equipa um dos melhores postes da NBA em Dwight Howard.
     
     James Harden começou a carreira como um role player em Oklahoma que foi gradualmente evoluindo para um 6th man até se tornar uma das figuras da equipa. Na sua última temporada com os Thunder, quase sempre suplente, acabou com uns impressionantes 17 pontos por noite. Rapidamente começou a ambicionar por um maior papel na Liga, o que levou Sam Presti a incluí-lo numas das trocas mais incompreendidas dos últimos anos que o fez aterrar em Houston, pronto para assumir o papel de estrela.


A maior crítica apontada ao atirador de Houston prende-se com a sua incapacidade de se integrar num conceito de basquetebol de equipa, com movimentações de bola e distribuição dos lançamentos. Há um certo egoísmo no jogo do All-Star, constantemente procurando as penetrações para finalizar os ataques com dois pontos ou uma falta que o leve para a linha de lances livres. O processo é eficaz – Harden é, afinal, um dos melhores penetradores da Liga – mas dificilmente será suficiente para uma boa campanha nos playoffs se o base-atirador não começar a envolver os seus colegas nas ofensivas da equipa. James Harden precisa de amadurecer o seu jogo e tornar-se o líder da equipa, não numa perspectiva de egoísmo ofensivo e de assumir excessivos lançamentos por jogo (alguns bastantes apertados), mas de envolvimento colectivo no ataque ao cesto adversário.

James Harden monopoliza a bola na maior parte dos 24 segundos de ofensiva, concluindo os ataques, quase sempre, com penetrações ou lançamentos sem grande espaço para sucesso. Neste sentido, regrediu do papel que assumia em OKC, onde o estilo de jogo mais fluído o obrigava a passar mais a bola. Este excesso de tempo com bola nas mãos reflecte-se no número de turnovers por partida – média de 4! – e numa interessante estatística segundo a qual o atirador dos Rockets é o jogador na NBA que, não sendo point guard, mais retém a bola durante as ofensivas, apenas batido por LeBron James. A isto acresce que o Rockets são a 25ª equipa em assistências por jogo.


Se a este problema acrescentarmos que James Harden não é um bom defesa – nem é isso que a equipa exige dele – resta reconhecer que o atirador precisa de adaptar o seu jogo em nome do sucesso do colectivo. Como o treinador e antiga lenda dos Boston Celtics Kevin McHale tem insistido, é preciso que os seus atletas combatam o instinto para a individualidade e comecem a favorecer movimentações constantes, em busca do lançamento isolado.

Um exemplo da péssima abordagem defensiva de James Harden.

Ainda assim, a culpa não pode cair exclusivamente sobre James Harden. A ausência de qualquer química na equipa é notória e dificulta qualquer intenção de praticar um jogo ofensivo mais fluído – relembre-se os problemas com Asik, a difícil relação de McHale com Jeremy Lin, etc. Mas é aquando da necessidade de mudança que os líderes aparecem. Cabe a James Harden liderar e ser a estrela que tanto se quis tornar, percebendo que mais do que marcar pontos, deve ser defesa, playmaker e bloqueador para os seus colegas – da mesma forma que LeBron se soube adaptar às necessidades da sua nova equipa quando se mudou para South Beach.
                

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Entre lesões e poupanças, quem são as caras novas dos Spurs?


    Aos 31 anos Tony Parker vem de uma das melhores épocas individuais da sua já longa carreira – presença nas finais da NBA, campeão europeu pela França e MVP do torneio e recém eleito melhor jogador europeu do ano. O veterano base dos Spurs mantém-se como um dos melhores da Liga na posição de playmaker, registando esta época uns impressionantes 20 pontos e 8 assistências por jogo. Contudo, Greg Popovich sabe que o auge do seu big three – Ginobili (36 anos), Duncan (37 anos) e Parker – já passou e que para extrair o melhor deles precisa de promover rotações fisicamente menos exigentes e poupá-los em alguns back to backs. Assim se compreende que os suplentes em San Antonio tenham agora uma importância maior do que a do típico role player, somando bastantes minutos e até alguns jogos a titular. Mas para lá dos já bem conhecidos Boris Diaw, Matt Bonner e Marco Belinelli, quem tem alinhado pelos vice-campeões?

     Patty Mills, o base australiano que cumpre a terceira época no Texas, viu a sua presença em campo aumentar de 11 para 18 minutos em relação à época transacta. Após uma estreia algo tímida, Mills já assume, em certas noites, algum protagonismo na equipa dos San Antonio – e isso evidencia-se na média de pontos, que aumentaram de 5 para 9 por jogo. Bom atirador de média e longa distância (43% da linha de 3 pontos), o jogador de 25 anos precisa ainda de melhorar a sua capacidade de distribuição de jogo (soma apenas 3 assistências por partida). O auge do seu percurso pelo Spurs surgiu recentemente, num jogo frente aos Charlotte Bobcats, em que anotou 32 pontos, 4 assistências, 7 ressaltos e 2 roubos de bola.

A grande exibição de Mills, frente aos Bobcats.

     Jeff Ayres, o antigo jogador dos Pacers (onde ainda era conhecido por Pendergraph, até mudar de nome quando conheceu o seu pai biológico), tem sido outra aposta recorrente de Popovich, somando mais jogos a titular esta época – já leva 10 – do que em toda a carreira, muito devido à lesão do brasileiro Thiago Splitter. Apesar das estatísticas não impressionarem – 3 pontos e 4 ressaltos em 14 minutos por noite – o número 11 dos Spurs tem contribuído defensivamente com a sua presença no paint e registado uma interessante evolução a nível ofensivo. Apesar de tudo, Jeff Ayres é um atleta muito limitado, principalmente a atacar, o que lhe deverá custar bastantes minutos aquando dos playoffs.

Jeff Ayres afunda com estilo contra os Timberwolves.

     Nando de Colo - base-atirador francês – chegou ao Texas rotulado como o novo Ginobili, um rótulo que cria bastantes expectativas e, consequentemente, pressão sobre o jovem jogador. O desempenho não correspondeu, de todo, às expectativas e o atleta chegou até a expressar algum descontentamento com o seu lugar na equipa. Este ano, contudo, e muito graças à onda de lesões que assolou os Spurs (Danny Green, Leonard, Splitter), a insistência de Popovich começou a dar frutos e Nando de Colo registou, nos últimos 10 jogos, números algo interessantes: 8 pontos e 3 ressaltos em 17 minutos por noite. Ainda assim, os rumores apontam para uma futura troca, pelo que é de presumir que Popovich entenda que não consegue extrair muito mais do francês (se ele não, quem conseguirá?).


     Para terminar, Cory Joseph, que soma já 11 jogos a titular no backcourt dos Spurs. O base canadiano – já carinhosamente chamado de CoJo – aterrou em San Antonio apenas após um ano de universidade, e o seu jogo, ainda algo imaturo, não lhe permitiu somar muitos minutos, participando apenas em menos de 60 jogos nas duas últimas temporadas e rodando entre a NBA e a D-League. Este ano, contudo, o cenário mudou e Joseph já participou em 40 partidas, somando na última dezena 8 pontos, 3 ressaltos e 2 assistências. O base destaca-se, sobretudo, defensivamente, mas esta época tem aparecido mais destemido no lançamento exterior. Face à tenra idade 22 anos, será um jogador que Popovich quererá manter por perto pelo menos por algumas épocas.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Rip City: chaves para lutar pelo Oeste



     Os Portland Trail Blazers são uma das maiores surpresas do campeonato – disputam o crédito com os Phoenix Suns. Da equipa de Terry Stotts previa-se, antes do início da fase regular, uma época dura na luta pelos playoffs – e muitos não acreditavam sequer no 8º lugar. Mas a verdade é que os Portland apareceram em grande na metade da temporada. Liderados por LaMarcus Aldridge, que está a fazer uma época ao nível de um MVP (média de 24 pontos, 12 ressaltos e 3 assistências), acompanhado por um núcleo de irreverentes atiradores (Lillard, Matthews e Batum) e por alguns role players que têm surpreendido (o starter Robin Lopez tem sido bastante elogiado, estando a registar a melhor época da carreira com 11 pontos e 8 ressaltos por jogo e Mo Williams afirmou-se com um backup guard capaz de manter a intensidade do jogo exterior da equipa), os Blazers surgem num impressionante 3º lugar na duríssima Conferência de Oeste.

   Contudo, desde o início de 2014 que a equipa tem caído de produção – desde então sofreram 8 derrotas, das quais 6 foram nos últimos 11 jogos. Os próprios jogadores têm veiculado pelas redes sociais a insatisfação com o corrente momento de forma. A quebra de produção tem lançado dúvidas sobre o real valor da equipa de Portland e questões começam a surgir sobre se início imparável da equipa foi mais uma sequência atípica. Mais do que nunca os défices dos Blazers tornaram-se evidentes: as dificuldades defensivas (os Portland são a 5ª pior defesa da Liga em pontos sofridos por jogo – mais de 103 pontos); falta de profundidade no banco e ausência de um 6th man(apenas Mo Williams tem sido um contribuidor regular); incapacidade de marcar pontos através de lançamentos de média distância dentro do paint.


     Mas além destas já comuns críticas apontadas ao jogo doz Blazers, outros aspectos têm sido determinantes para a quebra do sucesso da equipa. Reconhecê-los e ultrapassá-los é a tarefa que se impõe a Terry Stots (se o conseguir, o prémio de Coach of the Year estará mais perto).

1) A equipa de Portland é especialista na conquista de ressaltos ofensivos – é 5ª na NBA -, conseguindo com isso múltiplos second chance points por jogo. Robin Lopez tem uma média de 4 por jogo e Aldridge soma quase 3. Mas na tabela defensiva a questão é distinta. Embora os Blazers não sejam maus ressaltadores defensivos, também não são dominantes. Ficam a meio da tabela das equipas com mais defensive rebounds. Mas esta mediocridade acaba por anular os possíveis efeitos positivos de conseguirem muitos second chance points no outro cesto.

2) Outro aspecto que merce crítica e mais atenção é a péssima abordagem defensiva dos Blazers aos atiradores da linha de 3 pontos adversários desde há alguns meses. Sendo esta uma das armas favoritas da equipa, tal deveria ser razão para se sensibilizarem para a necessidade de defender estes lançamentos letais. Os atletas de Rip City parecem tão concentrados em evitar pontos no paint que se desleixam na cobertura dos atiradores – e isso evidencia-se na estatística de que a equipa está já na segunda metade em triplos sofridos por jogo.

3) Continuando na defesa, Damian Lillard (que está a fazer uma impressionante época, com muitos clutch shots e recentemente escolhido All-Star) tem sido fraco na defesa. Não é que o habilidoso base de Portland não acompanhe de perto, e até incomode, o opositor. O problema é a abordagem que tem para com pick and rolls – Lillard corre e esforça-se muito na defesa, mas se não aborda os lances defensivos como um trabalho colectivo, de nada vale tanta dedicação, tornando-se uma presença redundante. O base precisa de melhorar a leitura do jogo adversário, prevendo movimentos, conseguindo antecipações e perseguindo o base adversário quando confrontado com bloqueios.

4) A nível ofensivo, permanece uma insistência em jogadas individuais com Aldridge e Lillard como protagonistas. O problema de não se partilhar a bola no lado ofensivo do court é que se tornam os restantes jogadores egoístas por natureza. Mesmo Batum e Matthews acabam por tentar lançamentos arriscadíssimos pois raramente conseguem segundos com a bola. A equipa precisa de trabalhar as penetrações, o passe-e-corte e as movimentações dos atiradores na busca por melhores lançamentos e diminuir o tempo de bola de Damian Lillard e o recurso ao jogo interior de LaMarcus Aldridge.


     Estes pequenos sinais, embora não sejam críticos – afinal a equipa mantém-se 3ª na Conferência – podem conduzir a derrotas inesperadas que facilmente se reflectem em descidas na classificação, face à forte competição que existe a Oeste. Se os Portland querem chegar aos playoffs em segurança, chegou a altura de esquecerem que são a equipa surpresa que vai derrotar o adversário que os menosprezou e começarem a trabalhar para serem vencedores incontestáveis.



Indiana Pacers: o início de um dinastia?


É raro assistirmos na NBA a equipas caminharem para o sucesso sem passarem por um período de tanking (épocas de insucesso que garantem uma boa pick no Draft do ano seguinte, conseguindo aí pescar alguma superstar) ou recorrendo à atracção de grandes jogadores em final de contrato (comum em equipas com grandes mercados, como é o caso dos LA Lakers). Contudo, os Indiana Pacers, e em particular a lenda viva dos Boston Celtics e da NBA Larry Bird – o presidente das operações ligadas ao plantel -, resolverem optar pela via old school, e capturar jogadores pela sua química, capacidade de liderança e polivalência técnica.
Assim, olhando para o cinco inicial – George Hill, Lance Stephenson, Paul George, David West e Roy Hibbert – encontramos um playmaker (Hill), um facilitador ofensivo, capaz de arrancar para o cesto a qualquer momento (Stephenson), um all around player, versátil a defender e a marcar pontos (Paul George) e duas torres, uma vocacionada para a parte ofensiva (West) e outra que se destaca pela habilidade para proteger o cesto (Hibbert). 


George Hill leva umas interessantes médias, com 11 pontos, 4 assistências e 4 ressaltos por jogo. O base de Indiana – adquirido numa troca directa por Leonard, dos Spurs – está em perfeita harmonia com os atletas que o rodeiam, organizando as ofensivas e dando a sua contribuição a nível pontual. Quando não está em campo, C.J. Watson assume o papel de base – ele que é um dos mais interessantes backup point guards, particularmente hábil na defesa.

Lance Stephenson é a grande surpresa da temporada. Lance era, no início desta época, um jogador desconhecido na NBA – muitos questionavam inclusivamente a sua capacidade para jogar na Liga. Mas a verdade é que Larry Bird e Frank Vogel (o treinador dos Pacers) espremeram todo o talento do base, e o ambiente no balneário ajudou Lance a evoluir e a tornar-se o crónico candidato a Most Improved Player esta época.  Com uma média de 14 pontos, 5 assistências e 7 ressaltos, Stephenson tornou-se uma constante ameaça de duplos-duplos, somando já 15 na presente temporada. Como suplente, Danny Granger – o segundo jogador mais bem pago do plantel – que está a recuperar a forma após algumas lesões, contribui como um exímio marcador de pontos.

Paul George é a estrela da equipa. O ainda jovem jogador tem registado uma evolução incrível nas duas últimas temporadas, assumindo já o estatuto de Superstar e All-Star. George é um raro caso de um jogador all around – ou seja, versátil a defender e a atacar – sendo porventura o segundo melhor jogador na Liga com estas características, atrás de LeBron James (a Durant falta-lhe a intensidade defensiva destes atletas). A média de 22 pontos, 4 assistências e 7 ressaltos fala por si só.

David West traz a experiência a uma equipa jovem. O veterano jogador é um especialista a conseguir lançamentos dentro da área, sendo ainda bastante eficiente a média distância. Será um trunfo bastante útil durante os playoffs. Como suplente, Luís Scola contribui em moldes idênticos.

Por fim, Roy Hibbert. O poste de Indiana será porventura o jogador mais importante na construção táctica da equipa: é, actualmente, o melhor defesa da Liga, e causa dificuldades a qualquer adversário com ideias de penetrar no paint. Na ausência dele, os Pacers já se precaveram e foram buscar outra torre: Andrew Bynum.

Nesta análise percebemos a influência de Hibbert no jogo dos Pacers e como o poste pode ser determinante para vencer os Miami Heat.

Indiana surge, assim, com um dos plantéis mais interessantes da NBA. Colectivamente, Frank Vogel conseguiu tornar os Pacers na melhor defesa da Liga – é a equipa que sofre uma média de menos pontos por jogo e sexta em ressaltos conseguidos. São ainda líderes na classificação da NBA, com apenas 10 derrotas. Mais do que as estatísticas, impressiona a química entre os atletas e a forte ambição por títulos. Na Conferência Este, apenas uma equipa pode rivalizar com o sonho de Indiana: os Heat.

            Miami e Indiana conhecem-se bem depois de uma final de conferência a 7 jogos no ano passado e a dois confrontos já na presente temporada (com uma vitória para cada lado). Enquanto líderes da Conferência, ninguém discute o seu favoritismo a regressar à final esta época. As próprias equipas já têm esse confronto bem presente no pensamento: como forma de combater o forte jogo interior de Hibbert, os Heat trabalham para recuperar Greg Oden; em resposta, os Pacers apostaram em Bynum. A chave para Indiana será conseguir travar LeBron James – o ano passado Paul George esteve bastante bem a defender o MVP, mas não foi suficiente. Uma coisa é desde já certa: vem aí um confronto épico nos playoffs!



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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Os 10 minutos de Greg Oden


                Greg Oden foi número 1 no Draft de 2007 (à frente de Kevin Durant) e, aos 26 anos (apesar de aparentar 50) está a tentar ressuscitar para o basquetebol, após uma época afastado da modalidade.
                Tudo começou na equipa de Ohio State, onde, após falhar o início de época por lesão, terminou a época com uma média de 16ppg, 10 ressaltos e 3 bloqueios e foi eleito Defensive Player of the Year. O hype foi tremendo. Steve Kerr chamou-lhe um once-in-a-decade player e só parou em Portland, após ser a 1ª escolha no Draft de 2007.


     Antes do início da época, uma micro-rotura no joelho direito fê-lo parar e perder toda a temporada. Na época seguinte, só em Novembro viria a marcar os primeiros pontos na NBA, exactamente um ano antes de voltar a sofrer uma mirco-rotura, desta vez no joelho esquerdo, que lhe voltaria a custar não apenas uma, mas duas temporadas, devido a complicações no estado do joelho. Após quatro intervenções cirúrgicas, foi dispensado pelos Portland Trail Blazers e o gigante poste decidiu afastar-se dos courts em 2012-2013 para se reabilitar.
                Fast forward para a pré-época da presente temporada, em que os Heat assinam Greg Oden para uma época, numa salto de fé do front office de Miami. Em Janeiro de 2014, o poste voltava a jogo desde Dezembro de 2009.

Greg Oden regressou à competição em Janeiro, contra os Washington Wizards, e logo com um afundanço.

     Greg Oden parece ter encontrado a equipa ideal para regressar em grande. Os Heat são, após dois anéis, uma equipa experiente, consciente da longevidade das temporadas e capazes de gerir o seu plantel para se apresentarem na máxima força quando realmente importa: nos play-offs. Mas, ao mesmo tempo, os Heat encontraram também o monstro perfeito para batalhar com aquela que será a maior preocupação na presumível batalha pelo Este com os Indiana Pacers: Roy Hibbert (e agora também Bynum).
    
    Chris Bosh e Chris Andersen dificilmente seriam capazes de conquistar espaço ofensivo face à imponência e intensidade de jogo de Hibbert (um candidato evidente a Defensive Player of the Year) e faltam-lhes o poderio físico para incomodar o gigante de Indiana nas acções ofensivas da equipa de Paul George e companhia. A gigantesca dor de cabeça que Hibbert iria causar – obrigando Miami a colar dois defesas ao poste, abrindo espaço para que os lançadores de Indiana pudessem bombar de variadas distâncias – encontrou em Oden o melhor remédio possível. No fundo, Miami encontrou o seu (anti-)Hibbert.


    Assim, mais do que o que Oden pode fazer pelos Heat enquanto estiver no court, o que realmente importa é aquilo que os Heat já não terão que fazer (o tal recurso ao double team).

     A resposta de Larry Bird, comandante de Indiana, não se fez esperar e, perante os minutos que Oden vai somando na fase regular, resgatou Andrew Bynum – mais um gigante perdido, após lesões e uma tumultuosa passagem pelos Cleveland Cavaliers. Com Bynum, os Pacers ganham mais uns minutos de presença física no paint enquanto descansam Hibbert e deixam os Heat numa clara desvantagem debaixo do cesto. Desvantagem ainda mais evidente quando Oden dificilmente conseguirá ultrapassar a barreira dos 10 minutos por jogo.

     Uma coisa é certa: já está na cabeça de todos os fãs o confronto no jogo 7 da final da Conferência Este entre os Pacers e os Heat. As próprias movimentações no mercado destas equipas confirmam essa antecipação. E 10 minutos de Oden poderão ser a diferença entre uma quarta ida consecutiva à final ou o fim de uma era.



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Kyrie Irving e os Cavs: orgulho e preconceito



     Algo de estranho se passa em Cleveland. Às queixas de Bynum (entretanto nos Pacers) sobre o alegado mau ambiente no balneário causado por Kyrie Irving, passando pela decepção de Luol Deng (recém-contratado aos Bulls) com certos comportamentos, até aos rumores de que Kyrie Irving, o jovem point guard dos Cavs e primeira escolha do Draft de 2011, estaria a equacionar abandonar a cidade de Cleveland e partir rumo a melhores ventos em 2015. Paralelamente, a equipa vai jogando mal, sem espírito competitivo, desligada ofensivamente ( a única jogada que Mike Brown parece promover é a que já usava nos tempos idos de LeBron, ou seja, get-the-ball-to-the-star-and-run-away) e com uma defesa… inexistente. Se o mau ambiente no balneário é causa ou consequência dos maus resultados ainda se está para perceber, mas o que resulta para já evidente é a inexistência de qualquer química entre os jogadores de Cleveland. O caso torna-se particularmente preocupante quando a equipa actua numa das Conferências mais fracas dos últimos anos.

     Um dos problemas que Kyrie Irving enfrentará em 2015, se se confirmar a vontade de sair, é que, segundo o seu contrato, será apenas um restricted free agent – o que significa que aos Cavaliers basta igualar a melhor oferta que uma outra equipa fizer pelo point guard para que Uncle Drew fique vinculado a jogar o mesmo número de anos propostos na equipa que o acolheu. A alternativa seria assinar um contrato de 1 ano – uma qualifying offer – no valor de 9 milhões de euros, valor que dificilmente satisfará o habilidoso base. Na eventualidade de assim acontecer, certamente será trocado logo no início da época, uma vez que os Cleveland não quererão perder mais um All-Star sem receber nada em troca, como aconteceu com LeBron James – mas isso já só ocorreria em 2016.


O Preconceito:     
     O cenário que melhor satisfaria às partes seria, claro está, Cleveland começar a ganhar. Mas o sucesso precisa de ser construído. Desde logo, os Cavs teriam que mudar a sua política de jogadores. Actualmente, a equipa de Este tem optado por reunir o máximo de jovens promissores (Irving, Waiters, Zeller, Bennett, Tristan Thompson,…) , mas o efeito, ao invés de construir um plantel ambicioso, tem sido nocivo: todos querem mostrar serviço individualmente para merecerem grandes contratos, mas estão pouco interessados em jogar basquetebol enquanto desporto colectivo – é o oposto do que acontece em New York, com os Knicks. E isto porque falta veterania na equipa capaz de impor e ensinar aos recém-chegados as chaves para o sucesso na NBA (Bynum não tinha, nem tem, perfil para servir de tutor; Jack está feliz com o grande contrato que conseguiu e não se precisa de preocupar muito com os miúdos à sua volta; Varejão batalha ainda com a busca pela regularidade, devido às fustigantes lesões que tem vindo a sofrer ao longo dos anos; Deng chegou a meio da época a um balneário já destruído).




     Não menos importante é repensar a situação do treinador, Mike Brown. O ex-Laker tem falhado em cumprir o papel de orientador dos jovens e em trazer de volta o caminho das vitórias a Cleveland, após os sucessos da era LeBron (apesar de ter sempre falhado o anel). Basta ver um período de um jogo de Cleveland para se perceber que o treinador não está a desempenhar nenhum papel proactivo na prestação da equipa: ataca-se mal e não se defende. Parece que estamos a ver um grupo de jovens atletas basquetebolistas que se juntaram no momento para fazer uns cestos (este ano até já tivemos Bynum a tentar triplos!).

O Orgulho:
     Mas Kyrie não é livre de culpas. Chegou cedo à NBA, já rotulado como um point guard de nova geração, mas a verdade é que, e em particular com Mike Brown, não tem sido um jogador capaz de elevar o jogo dos seus colegas. O seu papel de comandar o processo ofensivo resume-se a reter em demasia a bola, lançamentos difíceis e, ocasionalmente, encontrar CJ Miles ou Waiters livres para um jump shot – culpa igualmente da incompetência do técnico Mike Brown. Ainda assim, dificilmente pode Kyrie Irving exigir um tratamento ao nível de uma superstar quando, na realidade, pouco fez para o merecer. Actualmente, não é um dos 5 melhores bases da Liga (sérias dúvidas se estará sequer no top 10) e vive mais da fama associada ao nome do que dos méritos do seu jogo, mais dos highlights que consegue devido à espectacularidade da sua técnica do que de vitórias.

Um exemplo da técnica de Kyrie Irving, com um dos mais espectaculares crossovers dos últimos tempos.

     Claro que os tenros 21 anos do base o protegem muitas vezes de críticas. O potencial e o talento são enormes, ninguém duvida. Mas se, por um lado, Irving se escuda na sua precoce idade para se defender de críticas, por outro também não pode exigir ser tratado como um base com provas dadas na NBA. Chegou a altura de alguém dizer ao Uncle Drew que o sítio para evoluir e se tornar numa base de equipa é o presente. Até porque se, de facto, vier a sair, a questão vai deixar de ser quão maus são os Cleveland, para passar a ser porque não conseguiu Kyrie Irving levá-los ao sucesso? 


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Mike Conley - o self-made Grizzly man


     Mike Conley sempre foi um jogador que passou debaixo do radar do detector de All-Stars da Liga. Já no college, em Ohio State, vivia na sombra de Greg Oden, como o sidekick daquele que viria a ser 1ª escolha no Draft. O reconhecimento que ia obtendo publicamente reconduzia-se mais ao facto de ser filho de Mike Conley, Sr., um atleta olímpico norte-americano em triplo-salto, e sobrinho de Steve Conley, antigo linebacker da NFL.
     Contudo, a sua boa época em Ohio – 11ppg e 6 assistências – não passou despercebida ao front office dos Memphis Grizzlies, que o escolheu, apesar dos tenros 19 anos, com a 4ª pick no Draft de 2007, logo atrás de Greg Oden, Kevin Durant e Al Horford. Foi o único base escolhido no top 10 esse ano.


     A primeira época não foi fácil para o base de Memphis, só tendo registado minutos significativos em Janeiro. Quando parecia capaz de se assumir como o base titular da equipa do Oeste, a concorrência de Kyle Lowry acabou por relega-lo para um lugar de role player. Só quando em Fevereiro de 2009 Lowry foi trocado para os Houston Rockets é que Conley teve, com o novo treinador Lionel Hollins, a sua oportunidade, afirmando-se como o point guard e terminando a época com médias de 15 ppg e 6 assistências. O novo contrato, no valor de 40 milhões por 5 anos, não tardou a chegar, apesar de muito criticado pelo seu alegado valor excessivo.
     Desde então, nunca mais perdeu o seu lugar, tornando-se uma das peças indispensáveis da equipa de Memphis com 19ppg, 6 assistências e quase 2 steals por jogo. O seu jogo atingia um novo nível.
                
     Dentro do court, a sobriedade do jogo de Conley, ainda para mais numa equipa com um front court gigante constituído por Zach Randolph e Marc Gasol, faz com que o base passe por vezes despercebido, mesmo após a saída de Rudy Gay. A capacidade de transportar a bola para o court ofensivo e a velocidade que herdou do seu pai perdem em protagonismo para a qualidade defensiva de Gasol e Tony Allen, mas não são de desvalorizar. Um dos grandes segredos do base reside no facto de ser ambidestro, o que lhe permite finalizar as penetrações no paint com floaters tanto com a mão esquerda como com a direita, dificultando a tarefa do defensor. Apesar da velocidade, Conley é bastante paciente a orquestrar a ofensiva, sendo bastante habilidoso em conseguir oferecer aos atiradores da equipa lançamentos sem oposição.

Um espectacular crossover de Conley a Matt Barnes, a terminar com o cesto.

    A ofensiva de Memphis, tanto com Hollins com actualmente com Joerger, faz bastante uso das habilidades e inteligência de Conley, em particular através de pick and rolls com os gigantes Z.Bo e Big Spain. Mas é mesmo a nível defensivo que o base tem registado uma impressionante evolução, porventura fruto de partilhar o backcourt com um dos melhores defesas da Liga – Tony Allen. O base é um dos melhores a defender pick and rolls, graças à sua agilidade, e a interceptar passes, conseguindo uma média de um par de steals por jogo (na época passada conseguiu o impressionante registo de 64 jogos seguidos com pelo menos um roubo de bola).

     Em conclusão, Mike Conley não é um dos melhores jogadores da Liga e dificilmente será um All-Star num futuro próximo, mas é um caso clássico de um jogador na equipa certa e de um atleta que soube fazer uso das armas que tinha – agilidade e facilidade de conduzir e lançar a bola com as duas mãos – para trabalhar a intensidade do seu jogo, adaptando-as às necessidades da equipa.